Às margens da estrada de Laje Grande, o corpo abandonado contava uma história de terror. O cenário macabro revelava sinais de execução: marcas de tiro, ferimentos nos joelhos e queimaduras que mais pareciam um ritual de silêncio imposto pelo medo. A polícia suspeita que o crime ocorreu em outro local, aumentando o mistério e dificultando as investigações.
Mas este não foi um caso isolado. Em 26 de abril, a população ainda digeria o terror do assassinato do vereador Ezio Galindo Cordeiro, conhecido como “Ezinho Construção”, alvejado à luz do dia. O crime, cometido nas proximidades de seu galpão, teve requintes de frieza: um tiro certeiro no pescoço calou para sempre uma das vozes mais ativas da cidade.
A morte de Ezinho abalou as estruturas políticas e sociais de Alagoinha. Em respeito ao luto, a tradicional Festa do Alverne foi cancelada — gesto simbólico que escancarou a gravidade da situação. Um representante do povo foi assassinado em pleno exercício do mandato. A pergunta que ecoa é: se um vereador não está seguro, quem estará?
Poucas semanas antes, em 9 de março, outro crime aterrador chocou os moradores. O comerciante Eguinaldo dos Santos Carvalho foi executado dentro de sua distribuidora de bebidas. O assassino fugiu sem deixar vestígios, mas a motivação pode estar relacionada a um suposto envolvimento com um esquema de adulteração de veículos.
O fio condutor que entrelaça essas mortes é o mesmo: impunidade, violência e abandono. Nenhum dos crimes teve a autoria confirmada até agora. Cada assassinato abre espaço para especulações, medo e um clima de insegurança crescente. As ruas de Alagoinha estão cada vez mais vazias ao cair da noite.
Até o tráfico de drogas ganha corpo entre becos e vielas antes esquecidos. No início de abril, a Polícia Militar apreendeu pinos de cocaína, materiais para recarga e entorpecentes em uma residência. A descoberta levantou suspeitas de uma rede criminosa mais extensa operando na cidade, com ligações em municípios vizinhos como Pesqueira.
A pergunta que Alagoinha se recusa a calar é: onde está o Governo do Estado? Enquanto corpos aparecem em estradas de terra e trabalhadores são executados em seus comércios, a população segue desassistida. A sensação é de que a cidade foi deixada à própria sorte, tornando-se presa fácil para criminosos e organizações clandestinas.
A paisagem bucólica do agreste deu lugar ao cenário de uma novela policial mórbida. O que antes era sinônimo de tranquilidade interiorana, agora virou enredo de tragédia: tiros nas esquinas, velórios silenciosos e famílias devastadas pela dor e pela ausência de respostas.
O luto já se tornou rotina. Desde o início de 2025, os crimes vêm se acumulando como páginas de um diário sombrio. E, pior: a população começa a naturalizar a barbárie. Os números não são mais manchete — são parte da vida cotidiana de quem apenas queria viver em paz.
Os agentes de segurança enfrentam limitações estruturais gritantes. Faltam viaturas, armamento moderno, efetivo e principalmente, respaldo político. A Delegacia de Alagoinha funciona de forma precária, e muitos crimes sequer chegam a ser totalmente investigados.
Enquanto isso, os criminosos ganham ousadia. Executam, traficam, extorquem e fogem pela mesma estrada de terra onde deixaram corpos. Conhecem os caminhos, dominam os becos e impõem o medo com a frieza de quem sabe que não será pego.
A juventude local está cada vez mais vulnerável. Muitos, como Caique, já tiveram agem pela polícia e são atraídos por promessas fáceis de dinheiro e poder. Outros, mesmo inocentes, tornam-se alvos ou vítimas colaterais dessa guerra urbana que não tem nome oficial.
As famílias estão reféns da insegurança. Trancam-se cedo em casa, evitam denunciar, temem represálias. E quando o medo cala as vozes, o crime governa em silêncio.
Não se trata mais de casos isolados, mas de uma epidemia social. O crime se enraizou. Matou um vereador, um comerciante, um jovem. E continua à espreita, esperando a próxima vítima.
A ausência do Estado é tão evidente quanto gritante. Nem reforço policial, nem programas sociais. Nem um pronunciamento firme do Palácio do Campo das Princesas. Apenas o silêncio. Um silêncio que mata.
O Ministério Público e a Secretaria de Defesa Social precisam agir com urgência. Alagoinha não pode ser tratada como uma nota de rodapé no mapa do crime em Pernambuco. A vida dos seus cidadãos tem valor, e suas mortes exigem resposta.
É hora de medidas enérgicas e integradas. Mais policiamento ostensivo, reforço nas investigações, presença do Estado e ações sociais que combatam o aliciamento de jovens.